Campanha Nacional Contra à Malária: 4,5 Milhões de Mosquiteiros para Proteger as Famílias em Angola

Demonstração de uso correcto do mosquiteiro
Segunda, 28 de Abril de 2025 - 14:32

Picada de mosquitos: um problema de saúde pública em Angola 

De acordo com o Inquérito de Indicadores Múltiplos e de Saúde (IIMS 2023-2024) “em Angola a malária é uma doença endémica, uma das principais causas de morbilidade e mortalidade que afecta todos os grupos etários. Os grupos mais vulneráveis são fundamentalmente as grávidas e crianças menores de 5 anos. As características geomorfológicas e climáticas de algumas províncias de Angola tornam-as de alto risco epidémico.”  

Diversas iniciativas têm vindo a ser implementadas para enfrentar esta situação. A World Vision Angola, através do Projecto de Apoio à Resposta Nacional ao VIH/SIDA, Tuberculose e Malária (GC7), financiado pelo Fundo Global e coordenado pelo PNUD, actua nas províncias de Benguela, Bié e Cuanza Sul, com o objectivo de reduzir a incidência e a mortalidade associadas à malária nestas localidades. 

Testagem rápida da malária

As actividades incluem o acompanhamento das famílias pelos Agentes de Desenvolvimento Comunitário e Sanitário (ADECOS), a testagem massiva para o plasmódio, a capacitação e o empoderamento dos profissionais de saúde, assim como a distribuição em larga escala de mosquiteiros tratados com insecticida 

Está prevista para Julho deste ano uma campanha nacional de distribuição em massa de redes mosquiteiras, em cooperação com o Ministério da Saúde e outros parceiros de implementação. Esta acção segue as recomendações da OMS, que preconizam uma rede para cada duas pessoas como medida para cobertura universal das populações em risco. 

 

Agente de Desenvolvimento Comunitário Sanitário ADECOS

Esta abordagem foi aplicada com sucesso na campanha de 2022, realizada durante a pandemia da Covid-19 nas províncias de Benguela e Cuanza Sul. Nessa ocasião, foram distribuídas mais de 1 milhão de redes mosquiteiras em 17 municípios, utilizando a estratégia porta-a-porta, adaptada às restrições sanitárias então em vigor. Também foram utilizadas estratégias de ponto fixo, consoante a acessibilidade e as características demográficas das zonas. 

No entanto, a luta contra a malária vai além da distribuição de redes. O controlo de vectores, incluindo a pulverização residual intradomiciliária (PRI) e a monitorização da resistência aos insecticidas, tem sido parte integrante da resposta. Nas províncias prioritárias, a World Vision conduziu estudos para determinar a tipologia do parasita e a sua resistência aos insecticidas, o que levou à introdução de redes de piretróide-PBO e redes de Insecticida de Acção Dupla (IA dupla), consideradas mais eficazes contra cepas resistentes de mosquitos. 

Estudo para determinar a tipologia do parasita e a sua resistência aos insecticidas 

Campanha de Distribuição de Mosquiteiros intensifica resposta à epidemia 

A Campanha Nacional de Distribuição de Mosquiteiros em 2025 tem como objectivo distribuir dois tipos de mosquiteiros tratados com insecticida (MTI) à população. A World Vision Angola prevê distribuir cerca de 4 milhões e meio redes mosquiteiras nas províncias onde implementa o projecto. Além disso, prevê-se a implementação de acções como a pulverização residual intradomiciliária (PRI), a monitorização da resistência aos insecticidas, a vigilância entomológica, e a gestão ambiental das fontes de larvas, conforme o Plano Nacional de Controlo da Malária (PNMC 2020). 

Campanha de distribuição de mosquiteiros em 2022 

A campanha será adaptada com base nas lições aprendidas nas acções anteriores, sendo executada em duas fases: distribuição porta-a-porta em zonas remotas e de difícil acesso, e distribuição em pontos fixos nas áreas urbanas e com maior densidade populacional. Para garantir a eficácia e a transparência do processo, todas as actividades de registo e distribuição serão digitalizadas através da plataforma Rediv, com um projecto-piloto num município seleccionado. 

Os mosquiteiros a serem distribuídos serão do tipo Pyr (piretróide) e IA dupla, sendo que os mosquiteiros de IA dupla serão priorizados para as zonas com maior incidência de transmissão de malária, com base na estratificação efectuada pelo Ministério da Saúde. Esta distribuição será acompanhada de uma monitorização rigorosa sobre a eficácia das redes, a resistência aos insecticidas e a evolução da situação epidemiológica. 

Os resultados das campanhas anteriores, como a de 2022, reflectiram na descida de cerca de 25% dos óbitos registados entre 2022 e 2023, caindo para 9 mil face aos anterios 12 mil. A monitorização da resistência aos insecticidas após a campanha revelou a superioridade das redes CFP-PYR em comparação com os modelos tradicionais, reforçando a importância de adaptar continuamente as estratégias às condições locais. 

Beneficiária recebendo a rede mosquiteira

A campanha de 2025 tem como principal objectivo garantir que pelo menos 80% da população visada tenha acesso às redes mosquiteiras, o que contribuirá significativamente para a redução da incidência da doença. A utilização de dados actualizados e o envolvimento de parceiros académicos na modelação da transmissão são essenciais para maximizar a eficácia da resposta, assegurando uma cobertura eficiente nas zonas mais vulneráveis. 

Angola continua a enfrentar desafios consideráveis no combate à malária, mas os esforços coordenados entre o Governo, organizações internacionais e parceiros locais, como a World Vision Angola, têm demonstrado resultados promissores para alcançar uma Angola livre da malária. 

ADECOS fazendo acompanhamento casa a casa