Alimentação escolar: o incentivo para um futuro promissor

Menina comendo a merenda escolar
Sexta, 09 de Maio de 2025 - 12:51

"Antes eu sentia fome, e não conseguia me concentrar na escola. Agora, que posso tomar a sopa antes da aula, já sei ler e escrever", sorri Isabel.   

Isabel é uma menina de 13 anos que frequenta a 4ª classe na escola primária anexa da comuna do Nkhondo, área rural da província do Namibe, Sul de Angola. Isabel recorda que antes, não sentia tanto entusiasmo em ir à escola, principalmente por estar com a barriga vazia durante as aulas, o que dificultava o seu aproveitamento. 

Hoje, frequentar as aulas tornou-se mais motivador para a pequena e seus colegas. Eles contam com uma refeição quente, cinco vezes por semana, implementada como uma das componentes do projecto Okulonguesa. Com a chegada da alimentação escolar, a frequência da aluna aumentou, e isso tem permtido que ela adquira o conhecimento necessário para concretizar o seu sonho de ser médica no futuro.  

Isabel comendo a merenda escolar

“Antes, quando não tinha sopa, muitos dias eu faltava na escola, porque não tinha o que comer nem ali e nem em casa. Isso me impedia de aprender, de saber ler e escrever. Mas agora, com a sopa, sinto-me mais forte e motivada. Eu sei que, se continuar a estudar, um dia vou ser médica e vou cuidar das pessoas da minha comunidade", conta Isabel, esperançosa no futuro.

Assim como Isabel, milhares de crianças no mundo, especialmente no Sul de Angola, sofrem os impactos das mudanças climáticas agravadas pelo El Niño. A seca severa ameaça a segurança alimentar, deixando muitas sem acesso a refeições nutritivas enquanto frequentam a escola. Garantir uma alimentação adequada não é apenas uma necessidade básica, mas uma oportunidade para que essas crianças possam se desenvolver e alcançarem uma vida em abundância.

 

O professor da pequena sonhadora, Germano Benguela, relata que, anteriormente, o número de estudantes era consideravelmente inferior ao actual. De 40 alunos antes da implementação do projecto, houve um aumento significativo de mais do triplo deste número com a introdução da alimentação escolar. Actualmente, a escola primária do Nkhondo conta com 125 alunos (63 meninas e 62 meninos) nos dois períodos leccionados 

Professor de Isabel na escola primária do Nkhondo

“Não tínhamos este número registado, a escola nunca teve tantos alunos. E mesmo os que ainda frequentavam não prestavam atenção, e tinham um baixo desempenho, porque muitas vezes nem tinham uma refeição em casa. A cozinha tem sido um grande incentivo para que as crianças aprendam, e até para que os pais enviem os filhos para a escola. Agradecemos à World Vision por estar a transformar a nossa comunidade. O aproveitamento dos alunos melhorou, eles estão realmente a aprender”, sublinhou o professor. 

Apesar dos avanços, os limites que a localidade impõe, traz outras preocupações em relação às crianças. O professor ressaltou a necessidade urgente de se estabelecer um posto médico naquela comunidade, pois, em situações de emergência, a escola não tem como dar resposta. A unidade de saúde mais próxima encontra-se há várias horas de distância. 

Crianças da comunidade do Nkhondo

 

“Temos crianças que percorrem quilómetros para chegar à escola e, quando ocorrem situações como febres em sala de aula, não temos como prestar qualquer tratamento. As enviamos para casa doentes, sem que recebam sequer um atendimento de emergência. Precisamos de, pelo menos, um enfermeiro para acompanhar esta comunidade, pois não temos como socorrer os doentes”, lamentou. 

Para mitigar a transmissão de doenças, especialmente as de carácter contagioso, e apesar dos recursos limitados, o projecto Okulonguesa implementa naquela comunidade diversas actividades focadas em Higiene, Água e Saneamento (WASH). Na escola do Nkhondo, foram criados pontos de lavagem das mãos, onde estudantes, professores e toda a equipa de merendeiras fazem a higienização antes de entrarem em contacto com os alimentos.

Isabel lavando as mãos antes da refeição de merenda escolar

As merendeiras estão devidamente equipadas com toucas e aventais, garantindo que não ocorram descuidos de higiene e assim protegem o bem-estar dos beneficiários, especialmente das crianças. 

Maria Zita merendeira da escola primária do Nkhondo

A família de Isabel, assim como todas as famílias participantes das actividades, é cuidadosamente sensibilizada através da mobilização casa-à-casa. Nestas visitas, os agregados aprendem as formas mais eficazes e acessíveis de desinfecção da água, uma vez que esta é um dos principais veículos de transmissão de doenças diarreicas e outras. 

O projecto Okulonguesa é subvencionado pelo Camões - Instituto da Cooperação e da Língua, I.P. no âmbito do Programa FRESAN, e é implementado pela World Vision Angola em parceria com a ADESPOV.​ 

O FRESAN é uma iniciativa do Governo de Angola financiada pela União Europeia e co-gerida pelo Camões, I. P. Pretende contribuir para a redução da fome, da pobreza e da vulnerabilidade à insegurança alimentar e nutricional no Cunene, na Huíla e no Namibe, sobretudo através do reforço da resiliência e da produção agrícola familiar sustentável, da melhoria da situação nutricional das famílias e do apoio ao desenvolvimento de capacidades nas instituições.​