DA AUSCULTAÇÃO À TRANSFORMAÇÃO: Comunidade como Agente de Mudança no Combate ao Abandono Escolar

Bibiana recolhendo dados para o inquerito de uma adolescentes
Cefora Jorge
Quinta, 25 de Setembro de 2025 - 14:13

Em Angola, as crianças em idade escolar têm enfrentado inúmeros desafios para concluírem seus estudos. De acordo com o Instituto Nacional de Estatística, em 2022, 11,6% das crianças matriculadas no ensino primário abandonaram a escola antes do fim do ano letivo. Essa realidade é ainda mais grave para meninas em áreas rurais, onde preconceitos de género e a falta de condições de higiene nas escolas são barreiras significativas.

Em busca da melhoria desta realidade, surge o Projecto Mais e Melhor Educação para a Prevenção ao Abandono Escolar, financiado pelo Comité do UNICEF da Finlândia através do UNICEF Angola e implementado pela World Vision Angola (WVA), com apoio de parceiros locais, nas províncias de Luanda (municípios de Viana e Ícolo e Bengo) e do Cunene. 

Entre as pessoas na linha de frente desta transformação está Bibiana Balundo, agente comunitária da organização Kudisanza, que actua junto da WVA nos municípios abrangidos pelo projecto em Luanda. Antes tímida, ela encontrou no trabalho comunitário um espaço para crescer e se desenvolver enquanto profissional. “Aprendi que o meu papel não é apenas recolher informações, mas ajudar a dar respostas e transformar vidas”, partilha Bibiana, destacando que o trabalho de enumeradora vai além da recolha de dados: trata-se de ouvir, orientar e criar confiança.

Bibiana recolhendo dados para o inquerito de uma adolescentes

Durante as formações que recebeu desde o início do projecto, Bibiana conheceu ferramentas como a escuta ativa, essencial para compreender as crianças e ganhar sua confiança. Um dos maiores desafios, segundo ela, foi obter informações de crianças fora do sistema de ensino. “Foi mais fácil entrevistar nas escolas do que fora delas, especialmente nos grupos focais”, explica.

Os grupos focais reúnem crianças e adolescentes para discutir temas sensíveis como abandono escolar, violência, desigualdade de género e saúde sexual e reprodutiva. Nessas sessões, conduzidas pelos enumeradores, as crianças encontram um espaço seguro de partilha, aprendizagem e conscientização sobre seus direitos e deveres.

O projecto Mais e Melhor Educação para a Prevenção ao Abandono Escolar realizou esse inquérito para ter uma base mais acurada sobre os factores que levam muitas crianças a deixar a escola. A pesquisa envolveu estudantes, professores e encarregados de educação.

Para Elias Joveta Bizela, presidente do Conselho de Moradores da Vila Sede, no município de Viana em Luanda, a auscultação comunitária foi transformadora:

Regedor do bairro de Viana Sede

“O sentimento é de alegria. Não foi apenas um inquérito social, mas um processo de incentivo e sensibilização. Vai permitir melhor planificação das escolas e mostrar ao Governo as reais necessidades da comunidade”, afirmou, reforçando que “ninguém melhor do que a própria comunidade para contar os seus problemas”.

O projecto já formou 19 voluntários em Luanda, com a meta de impactar 2.500 crianças diretamente em temas de saúde sexual, prevenção à violência e reintegração escolar. “Queremos que o retrato dos problemas venha da própria comunidade, para que as soluções sejam assertivas”, explica Junilda Januária, Assistente de Campo da World Vision Angola envolvida na coordenação das actividades com os parceiros locais.

Agente de Campo Junilda Januário

Apesar de desafios como a mobilização em período de férias escolares, o apoio das direcções municipais de educação tem sido fundamental. Até Outubro de 2026, a iniciativa actuará em dez escolas do município de Viana, ampliando o acesso à educação, fortalecendo o Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA), promovendo formação profissional, protecção infantil e apoio psicossocial nas escolas e comunidades.

O projecto envolve famílias, escolas e instituições governamentais, como o Ministério da Educação (MED), Ministério da Saúde (MINSA) e Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher (MASFAMU), que trabalham em conjunto para reduzir as causas do abandono escolar.

Elias conclui com esperança: “Com este projeto, esperamos ver mais crianças na escola e menos histórias de abandono. É um esforço coletivo que merece todo o nosso compromisso.”