Transformação pela informação: Como o Mais e Melhor Educação está a transformar realidades em Viana

Bibiana, Agente de Desenvolvimento Comunitário
Cefora Jorge
Quinta, 25 de Setembro de 2025 - 14:43

Bibiana Balundo é uma das agentes comunitárias do projecto Mais e Melhor Educação, financiado pelo Comité do UNICEF da Finlândia através do UNICEF Angola e implementado pela World Vision Angola (WVA) em Luanda e no Cunene, com apoio de parceiros locais.

Para ela, enquanto moradora do município de Viana em Luanda, o convite para integrar a iniciativa através da organização parceira Kudisanza, foi recebido com muito entusiasmo e expectativa. Além de uma nova experiência, a oportunidade garantiu a ela um aprofundamento sobre a realidade dos adolescentes que vivem ao seu redor.

Bibiana faz o trabalho de auscultação de crianças e adolescentes onde aprendeu que o seu papel vai muito além de recolher dados. A sua missão é ouvir, orientar e transformar vidas.

Bibiana coletando dados de estudante para o inquerito

“Aprendi que ouvir com atenção é muitas vezes a maior forma de ajudar”, partilha.

Os grupos focais do projecto têm sido espaços privilegiados de diálogo. Neles, os participantes falam abertamente sobre questões que afectam o seu dia-a-dia: abandono escolar, violência dentro da escola, igualdade de género, saúde sexual e reprodutiva, entre outros. 

Para Bibiana, um dos momentos mais marcantes foi acompanhar as adolescentes grávidas e mães. “Esse grupo foi o mais sensível. Ouvi-las partilhar as dificuldades que enfrentam tocou-me profundamente. Muitas não conseguem continuar os estudos, algumas já com dois filhos aos 16 anos. Isso mostra a urgência de abordarmos temas como o planeamento familiar.”

Ao lado de outros Agentes Comunitários, Bibiana incentiva os adolescentes a levarem as conversas para além dos encontros, multiplicando a informação nas suas comunidades. Ela acredita que essas acções funcionam como sementes: “O conhecimento que transmitimos hoje vai germinar e dar frutos no futuro, porque a maior sustentabilidade é capacitar as próprias crianças, os professores e as escolas.”

O exemplo de uma adolescente

Entre os muitos jovens que participaram dos grupos focais, está M. A, de 16 anos, residente em Viana, ela conta que encontrou nos grupos focais do projecto um espaço de acolhimento e aprendizagem. 

No primeiro ano enquanto estudante do Ensino Médio em Enfermagem, descobriu que estava grávida. O medo tomou conta da sua vida. “Nunca tive uma conversa aberta sobre saúde sexual e reprodutiva. Quando contei em casa, os meus pais quase me expulsaram”, recorda.

Ao participar no grupo focal, M.A. ganhou informação e confiança. Hoje, fala sobre saúde sexual e reprodutiva com as suas irmãs e outras jovens da comunidade. Aprendeu a controlar o seu ciclo menstrual, a reconhecer os riscos de relações sexuais desprotegidas e a identificar situações de violência baseada no género.

 “No meu bairro, muitas meninas são aliciadas por homens mais velhos em troca de dinheiro. Com os conhecimentos que adquiri, sinto-me mais preparada e quero alertar outras jovens sobre estes perigos”, explicou.

Mãe adolescente dando seu testemunho

Determinada a fazer a diferença, M.A. organiza encontros mensais com mais de 30 adolescentes, nos quais partilha o que aprendeu. Para ela, falar de menstruação é um dos maiores desafios: “Muitas meninas não sabem responder a perguntas básicas sobre o seu corpo. Quero transformar esse tema em algo simples, dinâmico e motivador. Não fiquei com o conhecimento só para mim. Mobilizo outras jovens porque não quero que passem pelo mesmo que eu passei.”

Além disso, M.A. acredita que envolver os jovens em actividades comunitárias é essencial para reduzir os índices de gravidez precoce e o consequente abandono escolar. 

 “Entrar no grupo foi das melhores coisas que me aconteceu. Hoje consigo sentar e conversar com as minhas irmãs sobre estes temas. O mais importante é ter domínio do assunto, saber os riscos e não ficar vulnerável por falta de informação.”

Mãe adolescente dando o seu testemunho

Graças a outro projecto apoiado pelo UNICEF, ela também encontrou um ofício que lhe traz independência: trabalha como pedicure e manicure.

“Sou muito grata à World Vision e ao UNICEF por darem voz às nossas histórias. Espero que este projecto continue a abrir oportunidades, sobretudo para meninas que estão fora do sistema de ensino”, afirma M.A.